Tese e dissertação são textos logos do gênero acadêmico
As partes das teses e dissertações pode constituir subgêneros específicos
A escrita da tese segue parâmetros distintos nas seções específicas do texto, guardando unidade de estilo e coerência entre todos os segmentos do trabalho. Assim, a introdução pode ter, por exemplo, uma passagem mais pessoal, que relate a ligação do autor com a temática, e partes que analisem discursos de sujeitos entrevistados podem requerer transcrições literais - segmentos repletos de oralidade, o que não é admitido em outros trechos no gênero acadêmico. Já os resumos, são outro tópico, e merecem uma postagem só para eles.
![]() |
O coroamento da pesquisa é a apresentação dos resultados: a tese, sua defesa, a publicação. |
Material e métodos: descrever equipamentos e procedimentos
Nesta seção o autor deve explicar claramente como o experimento foi realizado, e como foi realizada a análise estatística dos dados, podendo também utilizar as sugestões indicadas para escrever a introdução e buscando garantir que:
- Os leitores possam compreender e avaliar o experimento do trabalho e o tema da tese;
- Outros pesquisadores possam utilizar o estudo independente para verificar os resultados do mesmo ou de outros contextos e produções.
Algumas dicas úteis para escrita da fase “material e métodos”
- Mencionar a data e o local onde foi realizada a prova experimental, especificando as coordenadas geográficas e/ou as características físicas e biológicas relevantes.
- Descrever o plano experimental, incluindo os tratamentos aplicados, o número de repetições, a unidade experimental usada nas medidas e variáveis.
- Identificar os tratamentos experimentais por nomes fáceis de serem lembrados, evitando atribuir nomes muito genéricos ou longos, sempre se lembrando de respeitar as regras referentes ao uso de abreviaturas.
- Usar o passado do presente de forma geralmente impessoal ou passiva para descrever o que tem sido feito, pois são mais adequadas para o mundo científico.
- Listar os procedimentos ou métodos usados cronologicamente, de acordo com o tipo, sempre inserindo títulos e legendas.
- Explicar os detalhes e a finalidade de cada procedimento ou método utilizado, sem nunca incluir “materiais e métodos” de informações irrelevantes, tais como a cor de um rótulo ou quem analisou os dados. No entanto, se um método é particularmente longo ou bem conhecido, você pode consultar um trabalho já publicado na qual é descrito em detalhes, citando o nome do método, o autor e o ano, conforme as normas de citações.
- Indicar a marca, o nome e localização da empresa que forneceu os reagentes especiais (enzimas, organismos, culturas, etc.) ou ferramentas utilizadas no ensaio, sempre por escrito.
- Ler o diário que foi compilado durante a atividade experimental, caso haja importante mencionar informações em diferentes seções da tese.
- Descrever o modelo estatístico, análises estatísticas e o software usado. É importante trazer o nível ou níveis de probabilidade para apresentar os testes estatísticos. Caso a estatística seja conforme o padrão e bem conhecido, não é necessário fornecer suas referências, caso contrário, é conveniente adicionar uma referência bibliográfica que o detalhe.
- Ofereça a seção “material e métodos” para uma ou mais pessoas leigas, solicitando que leiam e perguntando-lhes se acreditam que é possível, a partir das informações relatadas, repetirem a prova experimental. Porém, se pretende obter excelência estética e técnica do trabalho produzido, procure sempre um profissional revisor que atenda às necessidades exigidas pelas áreas acadêmicas e científicas nacionais e internacionais, pois este observará mais a fundo e saberá identificar possíveis desvios que podem ferir a qualidade da tese.
- Uma dica extra, de revisores de textos: material, no sentido empregado aqui, é um coletivo: significa o conjunto de objetos e bens a serem empregados - e dispensa o plural “materiais” que se refere à substância como em oposição a “espirituais”. Veja bem: material escolar - conjunto de objetos levados pelas crianças, material de construção, material novo... Em oposição: construção com novos materiais (novas pedras, nova madeiras, novas tintas...), prefiro bens materiais a espirituais.
Resultados da pesquisa: hora de mostrar os dados
O objetivo do tópico “resultados” é apresentar e descrever os principais dados e informações obtidas na pesquisa de uma forma lógica, clara e objetiva, sem tentar interpretar o seu significado. Às vezes, no entanto, os resultados são apresentados em uma seção exclusiva chamada “resultados e discussão”, em que eles são também discutidos e interpretados.
Dicas para a elaboração da seção “resultados”.
- Selecione ponderadamente os resultados a serem exibidos e quais são relevantes tendo em conta o que está descrito na seção “Introdução”, independentemente se eles apoiam ou contradizem uns aos outros. Devem ser apresentados e descritos coerentemente, de forma a direcionar os leitores para os aspectos mais importantes da tese.
- Apresente os dados segundo os seguintes critérios:a. Ordem cronológica;b. A partir dos resultados mais relevantes, expô-los em ordem decrescente de importância ou vice-versa;c. Ordem fisiológica.
- Avalie a melhor forma de apresentar os resultados, se somente em texto ou com figuras e tabelas, lembrando sempre que o texto deve complementar figuras e tabelas e não repeti-los. É viável também afirmar que os resultados estão também apresentados dessa forma.
- Não exiba os mesmos dados na forma de tabela e figura. As figuras podem ser úteis para descrever algo que as tabelas não mostram em detalhes. Além disso, respeite a ordem cronológica de apresentação das tabelas e figuras conforme a ordem em que são apresentadas no texto.
- Especifique o nível de significância dos resultados.
- Lembre-se de que quando um texto científico diz que determinado tratamento é diferente de outro, fica implícito que tal tratamento é significativamente diferente, ou seja, estatisticamente, de acordo com o nível de significância especificado no texto, figuras e tabelas. Você não pode declarar que um tratamento é diferente do outro, se a análise estatística não suporta esta alegação.
- Descreva a magnitude absoluta ou relativa das respostas observadas durante os experimentos, comparado sempre ao grupo de controle, o grupo base que foi submetido a consulta. Muitas vezes é melhor expressar, especificamente no texto, as diferenças entre os tratamentos com porcentagens (por exemplo, em relação ao controle ou ao valor do período experimental) ao invés de números absolutos.
- Use o mesmo número de casas decimais para todos os números que se relacionam com uma variável particular, limitando o número de acordo com sua importância do ponto de vista químico ou biológico.
- Especifique as unidades de medida de cada variável usando o sistema métrico internacional (SMI) e qualquer outra medida de variabilidade, erro padrão da média, entre outros.
- Relate os resultados sempre no pretérito do indicativo.
- Respeite as regras do uso de abreviaturas e siglas, conforme o indicado no texto anterior, sobre a seção “Introdução”.
- Evite o erro comum de interpretar e comparar os resultados com os de outros autores nesta seção, porque isso deve ser feito na próxima seção, “discussão”. Caso haja uma única seção, chamada “resultados e discussão”, como já mencionado acima, os resultados de suas pesquisas são primeiro apresentados e comparados com os de outros estudos e não vice-versa, porque você tem que enfatizar seus resultados.
Discussão dos resultados obtidos
Na seção “discussão”, os dados obtidos da pesquisa são discutidos e interpretados, tendo sempre em conta o que já foi relatado na literatura, podendo o autor da tese aceitar ou rejeitar a hipótese testada no experimento e, se necessário, formular novas.
Os principais objetivos da seção “discussão dos resultados” são:
- Comentar e expressar suas próprias interpretações sobre os principais resultados alcançados;
- Comparar os resultados obtidos com aqueles relatados por outros autores sobre o mesmo tema ou sobre tópicos relacionados, a fim apresentar suas próprias interpretações dos resultados, explicando as suas implicações;
- Dar sugestões para estudos futuros.
Dicas úteis na elaboração da fase “discussão”.
Organizar a discussão na seguinte ordem:
- a. comentário dos resultados de sua experiência e, para ajudar a interpretação, comparações dos resultados obtidos – sem repeti-los – com aqueles relatados na literatura, sempre respeitando as regras de citações já mencionadas.b. - aceitação ou rejeição da hipótese testada;c. implicações do trabalho;d. estudos futuros para aprofundar o tema.
- Não se preocupar com resultados menores ou pouco relevantes para a hipótese em si.
- Discutir e avaliar quaisquer resultados contraditórios ou anormais e qualquer descoberta inesperada.
- Não fazer afirmações categóricas, enquanto a interpretação dos resultados, se não houver evidências suficiente para apoiá-los. Se, por exemplo, estão sendo levantadas novas hipóteses para explicar os dados, elas devem ser razoáveis e claramente definidas como tal.
- Indicar os limites potenciais da tese e comentar sobre como poderiam afetar a interpretação e validade dos resultados.
- Destacar a importância dos resultados alcançados, ou seja, as principais conclusões da pesquisa e explicar como eles afetam o conhecimento sobre o problema analisado.
- Usar o modo indicativo no tempo passado quando discutir aspectos específicos de seu estudo ou aqueles realizados por outros autores. Empregar o tempo presente caso faça generalizações ou exponha princípios que ainda se aplicam no momento da escrita da tese. Use o modo condicional do verbo quando você levanta uma nova hipótese para explicar os dados, ou quando você dá sugestões sobre novas abordagens para serem estudadas futuramente.
- Respeitar sempre as regras referentes ao uso de abreviaturas e siglas descritas, conforme o indicado no texto anterior, sobre a seção “Introdução”.
Conclusões da pesquisa
Tem uma seção independente para essa parte ou incluí-la na seção “discussão” é uma escolha do redator. No entanto, apresentar as conclusões separadamente traz a vantagem de se poder condensar os conhecimentos adquiridos com pesquisas, anteriormente discutidas com detalhes na seção “discussão”.
As principais funções da etapa “conclusões” são:
- Resumir as principais conclusões da tese (em particular a aceitação ou rejeição da hipótese testada);
- Explicar as implicações desses resultados;
- Fornecer sugestões para estudos posteriores.
Dicas de revisores profissionais para a escrita das “conclusões”:
- Resuma os principais resultados experimentais e suas implicações mais relevantes;
- Escreva explicitamente se a hipótese testada foi aceite ou rejeitada, ou se os objetivos do estudo foram alcançados;
- Não inclua novos dados, tópicos ou informações novas.
- Insira uma ou duas sugestões para estudos futuros nesta seção em vez de colocá-los na seção “discussão”. Evite o erro de escrever apenas uma frase genérica, tais como “mais estudos são necessários sobre este assunto,” sem especificar qual o tipo de estudo e as razões para isso.
- Use os modos e tempos verbais sugeridos para a seção “discussão” também em “conclusões”.
Estilo do texto acadêmico: o gênero requer formalidade
Algumas das recomendações mais importantes relacionadas ao estilo, incluindo vários já fornecidas nos textos anteriores sobre a tese, são:- Durante a elaboração da tese, é preferível usar o verbo na sua forma impessoal ou passiva.
- Quando falar no tempo passado, o modo indicativo é indicado, mesmo nas referências sobre como o experimento foi realizado (materiais e métodos) e sobre os resultados obtidos e discutidos (resultados, discussão e conclusões), uma vez que o experimento foi concluído.
- O presente do indicativo é usado somente quando houver generalizações necessárias em algumas partes da seção “Introdução”, “Discussão”, “Resumo” e “Conclusões”. Em caso de levantamento de hipóteses e sugestões para estudos futuros, recomenda-se o uso do condicional ou mesmo às vezes o subjuntivo.
- A linguagem técnica e científica deve ser simples e consistente, concisa, clara e objetiva. Você deve evitar usar frases muito longas, complexas ou desconectadas entre si, como já ensinado em outras seções. Estas frases exigem um comprometimento substancial por parte do leitor para compreender a estrutura, em detrimento da interpretação de seu próprio conteúdo científico. Conectar as frases adequadas com conjunções, sem exagerar o seu uso, ajuda o leitor a compreender melhor o conteúdo do texto.
- A primeira vez que é mencionado o acrônimo para uma palavra ou um conjunto de palavras longas, é necessário escrevê-las na íntegra, seguido pela abreviatura (ou sigla) colocado entre parênteses e, às vezes, destacado com negrito. A partir daí, sempre que esse termo é usado no texto é aconselhável sempre relatar a abreviatura (ou sigla), idêntico à primeira vez. Não recomendamos o uso de um número excessivo de abreviaturas ou acrônimos, pois confundem e distraem o leitor. O uso desses artifícios só se justificam quando necessitam aparecer várias vezes no texto. Você deve compilar uma lista de todas as abreviaturas (ou acrônimos) usado no texto, podendo inseri-la no apêndice ou até mesmo após o resumo, facilitando a leitura do restante da tese.
- Toda a formatação deve ser definida já no início da escrita do primeiro esboço. O texto da tese escrito em fonte normal, de preferência alongadas nas extremidades das hastes, tais como Times New Roman, e com um tamanho mínimo de 12 pt. Os termos escritos em uma língua estrangeira, nomes científicos de espécies ou palavras julgadas importantes, devem ser escritos em itálico ou sublinhadas.
- Títulos e legendas devem ser diferenciadas entre eles e o resto do texto e podem ser escritas em negrito, letras maiúsculas, itálico, versalete ou sublinhados.
- É importante sempre informar a unidade de medida utilizada, de acordo com o sistema métrico internacional (SMI).
- Em uma tese científica geralmente não se usa notas de texto. Eles são usados em teses de outras áreas com economia e direito, mas não são bem adequadas ao campo em questão.
Referências bibliográficas
A seção “referências” deve conter todas as obras realmente lidas e citadas por quem escreveu a tese, para o leitor encontrar os textos originais sem dificuldade. Erros nessa etapa e acabam demandando um tempo desnecessário tanto para o autor como para o leitor, que encontram problemas durante a leitura do texto. Algumas dicas úteis para organizar a seção “referências”:
- Não mencionar número excessivo de trabalhos e sim os mais relevantes para o tema e a tese e que foram lidos em sua versão original.
- No caso de alguns métodos ou resultados, é aconselhável mencionar o trabalho original e não a obra posterior, mesmo que escrita pelo mesmo autor e se referindo às informações contidas na obra original.
- Não citar sites de internet não confiáveis, porque podem não conter informações cientificamente oficiais e podem ser alterados ou, pior, desaparecerem a qualquer momento. Há, no entanto, vários sites relevantes e seguros que podem ser consultados e citados na tese sem problemas.
- Para cada citação listada, retornam os dados exatos da obra original (incluindo acentos). Preste especial atenção se os nomes dos autores, ano, título do trabalho, o nome do jornal ou livro, volume e páginas estão corretas, para que o trabalho pode ser encontrado a qualquer momento pelo leitor.
- Uniformize os nomes dos trabalhos digitados, incluindo pontos, vírgulas, espaços, o caráter e a ordem (alfabética e/ou cronológica).
- Confira a correspondência exata entre as publicações citadas nas seções da tese e os indicados na lista de referências no final, pois a seção “Referências” não deve conter trabalhos não mencionados no texto, ou outro tipo de informação que não sejam referências.
- Quando um trabalho é mencionado no texto (ou tabela ou figura), sua referência bibliográfica completa deve ser imediatamente listada nas referências da tese, evitando um excesso de trabalho na finalização.
- Antes de entregar a tese (total ou parcial) ao orientador, você precisa checar as referências. Depois de verificar todo o texto, caso tenha ficado para trás alguma referência, é necessário adicionar as que faltam e mesmo observar se não há alguma listada que acabou não aparecendo no texto. É preciso também ter muito cuidado com erros de digitação que podem causar diferenças de ortografia entre algumas citações do texto e a lista bibliográfica.
- Atenção: segundo a ABNT, não se intitula mais esta seção dos trabalhos como “referências bibliográficas”, mas somente “referências” – o que faz sentido, pois o mais comum é que haja bibliografia e outras mídias listadas em conjunto (sites, filmes, correspondência eletrônica, e outros).