A receita é escrever muito e revisar depois.
Quão importante é a forma em um texto? E a coerência?
Vários elementos concorrem para a consistência textual; não podemos fazer distinção qualitativa entre um e outro, não podemos ter preferências.
Todo revisor de textos é um pouco maníaco ao ler, procura erro de digitação, observa cada detalhe do texto e vê desvios sutis da norma, imperceptíveis a olhos menos treinados, também, fica horrorizado se um romance contém um erro significativo, mesmo que não tire os méritos do resto da história. Muito revisor parou de ler blogs porque cansou de encontrar problemas de ortografia, blasfêmia do texto contra si mesmo. Se outro leitor perceber um erro de digitação, mas estiver feliz porque o post foi bom, continua lendo – o revisor para e não volta ao blog nunca mais.
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Escrever textos é uma prática, revisar textos é outra prática, são atividades complementares e não há como se excluírem. |
Aqui em nosso blog acontece isso! Publicamos muito e, como autores, nossos erros também passam... alguns são corrigidos meses depois, outros permanecem, aderidos e eternos: texto e erro nascem juntos, mesmo em território de revisores; sempre vale o aforismo: “o diabo mora na redação”!
O revisor é aquele detalhista, que observa as vírgulas e acentos, que durante anos foi sempre bastante atento aos textos, que não lê um livro em paz por causa de erros de digitação, erros gramaticais, repetições e problemas de tradução. Esses são os fantasmas da leitura que assombram vida do revisor, que fazem dele, para sempre, um leitor diferente daqueles que nunca exerceram o ofício da revisão.

A fórmula da escrita
Existe uma equação cujo resultado é o texto. O revisor é aquele que detecta qualquer desequilíbrio da equação; aqui está ela:
G + E + C = T, onde G significa gramática, E de estilo, C para conteúdo ou enredo e T é o desejado texto.
É uma fórmula que se adapta tanto à escrita criativa e blogs como a qualquer outra forma de texto. É uma fórmula que cada escritor, redator, blogueiro ou estudante deve aplicar a tudo o que escreve. Mas qual elemento aplicar primeiro e como equacionar os termos em conjunto? Boa pergunta, mas temos a certeza que não há uma resposta fácil ou simplificação elementar da equação.
Gramática: o básico da escrita. Não há mais nada a dizer. A gramática da língua portuguesa, para um escritor, blogueiro, redator ou estudante que tenha o português como língua materna é a bagagem, são as informações dos recursos da língua que já estão assimilados e inconscientemente são acessados pela memória – assim deveria ser, pelo menos, mas sabemos que a realidade é diferente – é algo que aprendemos como crianças, que não teríamos de desaprender – não se esqueça. O problema com muitas canetas e teclados atuais é que eles parecem não serem feitos para escrever bem. A maioria dos autores não aprendeu a escrever com as ferramentas que usa hoje e não as usa perfeitamente. Existem dicionários e gramáticas online acessíveis o tempo todo, mas a maioria dos autores os desconhece e trabalha como se estivesse isolado, ele e o papel ou tela – sem acesso à norma e aos usos da língua.
Estilo de escrita: a maneira de se expressar a ideia, misturar palavras e frases, criar sentimentos no leitor, gerar empatia, dar ritmo à escrita, obter credibilidade, conquistar a confiança do leitor. Estilo é bagagem que se adquire com exercício e que, talvez, se continue a construir para sempre. É também elemento que tem a ver com as muitas e variadas leituras de cada autor, porque o espírito precisa de ouvir e gravar as misturas de palavras das línguas e adaptá-las.
Conteúdo e enredo: o que você escreve. É o que justifica qualquer texto escrito, livro ou artigo ser o que é. É algo que nasce dentro de cada autor e que ninguém nunca vai dizer a que vem, porque não há nenhuma fonte única de ideias, mas tudo flui para criar uma história ou qualquer tipo de texto que estejamos escrevendo. As ideias estão a nosso redor, só precisamos saber como as encontrar – e as processar e reprocessar continuamente. Mas é preciso haver ideias de fato no texto, não cópias de histórias já publicadas, raciocínio já conhecido, dado já apresentado. Essas não são nossas ideias, mas de outra pessoa – e tanto podem e devem ser recuperadas, desde que apresentadas como alheias. Temos o dever de tirar partido da nossa experiência e da dos outros.
Revisão, sentimento e consentimento
A revisão do texto é o teste decisivo da fórmula da escrita. Claro que um erro de digitação pode acontecer com qualquer um. Mas como podemos justificar um escritor – e um editor que publica um trabalho cheio de erros? E quanto é devido ao descuido ou à ignorância? Uma história bonita, original, única, mas cheia de erros gramaticais e erros ortográficos não tem como permanecer boa. Na verdade, requer muito mais esforço para se ler um texto ruim, para se mergulhar nos personagens cambetas e para se entrar num mundo de lapsos e desinformação. A leitura é maculada por esses erros que persistem em ser erros. O erro – de qualquer tipo – é o pior ruído a desviar a atenção do leitor do conteúdo ou da trama do texto.
Uma história ruim, plagiada, sem originalidade alguma, mas impecavelmente escrita e isenta de erros não acrescenta nada ao leitor, exceto uma sensação de já vi e a percepção de não ter lido um livro bom. Uma boa escrita só funciona com os três elementos (G, E e C) juntos, assim como a água só existe graças a duas partes de H e uma de O combinadas.
Qual é sua fórmula para a escrita correta? Quanto você está disposto a suportar quando você lê? Quanto você está disposto a dispender quando escreve?
Revisar um texto criativo ou técnico
Depois de produzir um texto escrito, surgem as incertezas. Há erros de ortografia... e a linguagem é compreensível? Dê seu texto a ler por outra pessoa, porque, sem saber seu conteúdo, poderá dizer se o que está escrito é claro, se o o pensamento ou a história é compreensível. Mas não é sempre possível ter uma opinião externa! Os blogueiros escrevem e, antes de postar releem; é necessário fazer o esforço para entrar no lugar de um leitor da web. Os doutorandos devem reler os capítulos da tese como a banca lerá, vestindo a pelo de advogado do diabo. Os romancistas, leiam o desfecho da obra abstraído já conhecer o final da história. O revisor é o lobo mau que se esconde na pele de cordeiro do leitor para devorar os problemas do texto antes que eles surjam do prelo!
Aos alunos de graduação e pós-graduação acontece de terem que entregar um texto, contando apenas com sua capacidade de reconhecer-se se o texto é aceitável em forma e o tipo de exposição, ou seja, se o leitor entende o que está sendo dito: é que nem sempre eles podem contar com um revisor profissional. Aos alunos então são fornecidas ferramentas para analisar seu trabalho e se envolver em um tipo de autorrevisão, no sentido de ser capaz de dizer se o texto atende aos requisitos de desempenho: escrever de forma compreensível e correta um determinado tópico. Mas, na hora da tese ou da dissertação, não caberá se contentar com seus próprios olhos autorais obnubilados pela redação e pelas contínuas mudanças no texto. Tese e dissertação não têm escapatória: é necessário o trabalho profissional de revisão.
Aqui vai uma grade para a revisão do texto, com uma série de etapas para lembrar o que checar depois de escrever e antes que você feio com um texto manco. Sempre cabe uma espécie de autoanálise do texto. Essa grade vai ajudá-lo a não se esquecer de nada e, com o tempo, os procedimentos vão se automatizando, se convertendo em “hábito mental”.
A revisão de um texto nunca termina; o que termina é o prazo para a entrega do trabalho: uma boa ideia é usar os parâmetros abaixo para descobrir qualquer incompletude e os erros formais, tais como ortografia, pontuação; eles surgirão das consecutivas releituras e da reescrita – mas a própria reescrita pode introduzir outros tipos de erros. Lembre-se de que, produzindo um bom texto, o revisor poderá torna-lo excelente; mas, se o texto for apenas razoável, o revisor poderá somente melhorá-lo. Já se o texto for ruim, o revisor poderá cobrar mais caro – mas não fará nenhum milagre!