As observações que se seguem destinam-se a ajudar pessoas embarcando na tarefa de escrever uma dissertação ou uma tese.
Trata-se de evitar armadilhas do percurso e censuras que possam ser feitas no dia da defesa. Quanto às observações sobre a linguagem, elas lhes permitirão ganhar vinte ou trinta anos de tentativa e erro.
Primeiro de tudo, trate de amar! Você deve amar seu trabalho, sua pesquisa e, antecipadamente, amar o resultado – por se identificar com ele. Isso trará a alegria do esforço em direcionado, tanto a alegria do espírito (dilatatio cordis), quanto a do coração (mentis dilatatio), de acordo com uma fórmula de São Bernardo (1091-1153). Há um prazer singular em pensar e no pensamento, nas funções da “intelecção” e na “atividade discursiva” – falar (ou escrever) do que se pensa.

No entanto, a primeira tarefa é definir exatamente o tema, pelo menos provisoriamente, na busca de um fio condutor. “Antes da ideia distinta que busca a reflexão, temos alguma ideia impensada e indistinta, que é a oportunidade e o material dela, onde é baseada. A reflexão se voltará muito sobre si mesma, perseguindo-se e fugindo para o infinito.” (F. Ravaisson. De l’habitude. Rivages poches, 1997, p. 107). O tema é a ideia diretora, e ela deve ser forte, porque uma tese deve ser original e não consistir de nova compilação em apresentação diferente.
Então, a pesquisa deve ser lançada em todas as direções, com base nos mais recentes trabalhos, voltando no tempo tanto quanto for necessário. A tese vai evoluir durante seu trabalho, talvez pelo alargamento das hipóteses, também (é mais comum) pelo seu afunilamento. Nunca se esqueça de observar com precisão as referências dos artigos, capítulos ou obras inteiras consultadas. Sempre citar um autor ou uma passagem de primeira mão, ou seja, tendo sido lido o próprio trabalho citado: nada supera o atendimento de fontes diretas (originalia). Pesquisa bibliográfica começa pelas fontes mais recentes, retrocedendo à mais antiga. Mas lembre-se de que o documento antigo não é necessariamente ultrapassado, e de que o recente não é necessariamente o mais novo; e aquele texto grande não é necessariamente mais importante que aquele que tem formato mais modesto.
Tenha algum caderno de rascunho ou bloco de notas à mão – sempre: até mesmo à cabeceira da cama, onde se possa registrar tudo: são ideias que virão à mente (e até mesmo frases ou imagens), e que você pode esquecer se não anotar imediatamente – e esquecerá. Não confie em sua memória; você pode perder esses germes de frases, fragmentos, ideias. Você se sentirá confortável em uma data posterior, ao ter essa lembrança a sua disposição. Da mesma forma, quando você se sentir pronto para escrever alguns desenvolvimentos que serão necessários, não hesite em colocá-los no computador (com um backup externo – nas nuvens), assim será fácil de usar o tempo todo, no lugar que você escolher.
Você já pode considerar um plano de trabalho possível, continuando sua pesquisa, sabendo que tudo vai mudar várias vezes, até o momento da elaboração final, tudo vai partir das principais ideias que você vai encontrar e você destacará. “Lembre-se de que tudo vem antes das partes” – Bergson disse a Jean Guitton, quando este estava trabalhando em sua tese (O Tempo e a Eternidade em Plotino e Agostinho). Mas é certo que vai surgir um dia um plano detalhado, duas ou três partes, capítulos, aceito pelo seu orientador. As divisões principais devem ser sempre de dois ou três níveis (pelo menos até os capítulos); seus títulos indicam o conteúdo, tanto quanto possível (procure alguma simetria; equilíbrio vale ouro). O título da tese não deve ser o plano da obra. O plano é consequência do percurso investigativo, e não a causa. Esta é a razão pela qual o título definitivo surgirá bem mais tarde.
Comece a escrever mesmo que você não tenha em mente todas as ideias e suas propostas finais. Claro que buscar sem saber o que procurar não é realmente uma procura, mas apenas sonho – então, sonhe. Enquanto escreve, trate respeitar as regras da escrita acadêmica, lembrando que o usus scribendi é distante do usus loquendi: a linguagem escrita não é exatamente aquela que é falada. Uma receita para escrever bem: nunca iniciar duas frases consecutivas da mesma maneira. Busque sinônimos adequados e termos precisos. Não espere para começar a escrever. Inicialmente, deixe de lado a introdução (ninguém respeita esse bom conselho – então, aprenda perdendo seu precioso tempo!); ela será escrita (ou reescrita) mais tarde: quando a tese estiver concluída! Mas temos que pensar no início do texto, anotando ideias, fórmulas, questões, direcionamentos, contraposições e suportes de outros autores. Muita atenção: não escrever introdução e conclusão às pressas, em poucos dias, porque são de importância capital. Inúmeros leitores, infelizmente, lerão apenas essas duas peças.
Durante a redação do primeiro esboço, escreva sem se preocupar com o estilo, sem se preocupar muito. Avance para os temas centrais, sem tentar ser brilhante, em um processo contínuo. Você coloca os dados dos fichamentos e dá o polimento ao texto mais tarde. O que importa, essencialmente, é seguir em frente e procurar rapidamente se apropriar do conjunto; em princípio, sem pausa – deixe fluir. Se, de acordo com São João da Cruz, não há nenhum caminho, você tem que andar. Se tem que avançar, é pela escrita que inspiração virá. Escreva, escreva, escreva sempre! Se você está em impasse sobre uma questão, não crie bloqueios. Passe para outro tópico, volte depois ao ponto com que não sabia lidar; o tempo, provavelmente, ajuda a resolver os impasses. Lembre-se de que escrever envolve um ascetismo e requer mesmo isolamento, trata-se de criar uma espécie de deserto ao redor de si: o escritor é um solitário. “Livros são obras da solidão e filhos do silêncio” (Proust). Complete, expanda totalmente suas intuições: “é necessário esgotar uma ideia, até que ela tenha coisas diferentes para entregar” (Proust, correspondência, t. XVIII, Plon, 1990, p. 101). Lute contra suas ideias, para inseri-los em sua plenitude, coloque-as de forma sólida e precisa.
Você pode achar que, mesmo aprovado pelo seu orientador, seu projeto não atende suas expectativas, por exemplo: que as partes são muito desequilibradas. Pense em uma nova ordem. Mas o trabalho não será perdido. Com o editor de textos, você pode facilmente mover qualquer segmento de um lugar para outro. Certifique-se de que seus argumentos são necessários para sua demonstração.
Sempre que, durante sua pesquisa e escrita, houver hesitações, ou mesmo ansiedade, não hesite em solicitar a intervenção de seu orientador, que deverá ajudá-lo, com alegria, a superar o impasse. Ao formular suas dúvidas, ele sabe, talvez sozinho você encontre a solução, porque fazer é limpar e construir. A criação é realizada pelo verbo.
Sem muitas delongas, não tenha pressa: nada de pressa indevida ou lentidão irritante. Quanto ao volume, uma dissertação tem de 80 a 120 páginas. Uma tese, um trabalho a longo prazo, é muito maior, mas é não há padrões, depende do tema e propósito. No entanto, se uma tese se limita a determinado volume, espessura e comprimento não são qualidades em si. Além de um certo número de páginas, há o risco de a banca não ler o texto na íntegra.
Trabalhar com perseverança e coerência. “A inspiração é decididamente a irmã do trabalho diário” (Baudelaire, conselhos para jovens escritores, VI). No entanto, em caso de bloqueio total, vá caminhar e meditar uma semana na floresta ou nas montanhas… Lembre-se de que, por trás das nuvens (dificuldades), o sol brilha. Se você é incapaz de escrever, a razão para isso reside na falta de libido (embora você seja muito senhor das faculdades reprodutivas), é conhecida a ligação entre o poder e o desejo de escrever!
Adote um sistema de referências, de preferência um sistema eletrônico; qualquer editor de textos moderno tem esse recurso. Basta lançar na base de dados, imediatamente, qualquer texto em que você ponha as mãos. Preste atenção: lance os dados antes mesmo de começar a ler. Não importa se a leitura for abandonada, ou não houver interesse real no texto: outro interesse poderá surgir depois.
Não use excesso de notas de rodapé. Elas devem permanecer breves. Se elas tendem a ser longas, é que sua substância merece ser incorporadas ao texto, de uma maneira ou de outra. Não faça referência a chavões. Use parágrafos quando você deixar uma ideia para tomar outra.
Não hesite em criticar as opiniões e autores, incluindo seu orientador. Mas formule suas críticas sempre de forma cortês, medida e fundamentada, mantendo um espírito humilde (mens humilis). Seja modesto, não esquecendo de que, para além das ciências exatas, o que os autores acreditam como verdades são suposições apenas temporárias, até que uma nova tese as contradiga! De acordo com Tucídides, a ignorância é ousada e o conhecimento reservado. Na verdade, não há melhor maneira de descobrir a verdade e refutar o erro que ter que se defender contra os adversários. Quando um autor se voltou várias vezes sobre o mesmo tema, você pode, claro, mencionar seus primeiros escritos, mas é imperativo citar sua publicação mais recente, que exprime a sua última posição (ele pode mudar seu ponto de vista, avançar a ideia); é intelectualmente desonesto criticar a doutrina de um autor, referindo-se ao estado anterior de seu pensamento.
A originalidade de uma tese é altamente desejável: faz parte da natureza desse trabalho, que consiste de pesquisa sobre questões controversas. Uma tese é uma compilação ou uma síntese. Mas estou tentado a dizer que a originalidade necessária deve ser razoável. Nesse sentido, cuidado com construções intelectuais engenhosas, mas sem nenhum contato com a realidade ou que sejam inaplicáveis.
Ser inspirado por um autor é legítimo, citando-o. Mas é imoral e ilegal (crime de plágio) copiar passagens inteiras em uma tese, até mesmo transformá-las – mesmo com a desculpa de paráfrase. Um trabalho de dissertação ou tese não é processo de copiar e colar. Cuidado com a tentação do plágio, resultado dos recursos tecnológicos e da perda de senso moral.
É melhor evitar personalizar tanto possível, adotando tom neutro, voz passiva, se for necessário, com a terceira pessoa do singular. Tente ter um estilo pessoal, marcado por um ritmo. A sentença deve ser flexível, com a variedade e a multiplicidade de recursos. Evite fechar parágrafos e começá-los da mesma forma. É fácil escrever um texto difícil de ler, mas é difícil escrever fácil o texto fácil de ser lido, tente fazê-lo mantendo sua qualidade substantiva! Tentar escrever um texto suave e musical; deve ser possível ouvir sua voz vindo de seu texto.
Agora é hora da introdução! Será fácil dizer onde tudo começou e onde você chegou. A introdução serve para delimitar o assunto, explicando por que certos aspectos são eliminados, possivelmente por causa de cortes históricos, sociológicos. As primeiras páginas da introdução devem ter um estilo sutil, leve, para seduzir o leitor a prosseguir e com poucas referências.
A conclusão é breve (algumas páginas são suficientes). Resuma os resultados de sua pesquisa. Quando você fizer isso, você deve cortar as amarras e ficar sozinho com você mesmo, suas ideias são as bases. Além disso, na conclusão não deve haver citação nem nota. Idealmente, você pode indicar no final as suas propostas de tese.
Será necessário fazer sumários e índices: o programa de edição de texto faz isso automaticamente, aprenda a usá-lo. Seu computador é bem mais que uma máquina de escrever eletrônica. As referências devem ser completas, todas as obras utilizadas, mas nada além delas; não inclua artigos ou livros não lidos, porque você pode ser questionado sobre eles por um membro da banca. Por outro lado, não omita um importante trabalho: um dia você vai se encontrar talvez na frente de seu autor!
Quando chegar a hora, você pode propor a seu orientador, os nomes das pessoas que você gostaria de ver na sua banca. Reserve tempo e dinheiro para contratar um bom revisor de textos. Se necessário, contrate-o também para a formatação profissional da tese: é um trabalho técnico, árduo e muito complicado para que se aprenda a fazê-lo apenas para o próprio texto.
Prepare a apresentação oral para o tempo que for indicado, apresente os fins de sua pesquisa, as dificuldades encontradas e os resultados. Suas palavras devem ser muito breves, porque a banca conhece seu texto. Sendo breve, você pode começar por agradecer aos membros da banca por sua presença, particularmente aqueles que vêm de muito longe e os de grande fama, assim como seu orientador. Quando da defesa, anote as críticas e observações que lhe serão feitas, você precisa tê-las em conta para melhorar sua tese antes da publicação.